A AMI é uma Organização Não Governamental portuguesa, privada, independente, apolítica e sem fins lucrativos. Desde a sua fundação, a 5 de Dezembro de 1984, a AMI assumiu-se como uma organização humanitária inovadora em Portugal, destinada a intervir rapidamente em situações de crise e emergência e a combater o subdesenvolvimento, a fome, a pobreza, a exclusão social e as sequelas de guerra em qualquer parte do Mundo.
O/A candidato/a selecionado/a irá integrar a Missão da Fundação AMI na Guiné-Bissau, sedeada na Região de Quinara.
O projeto “Intervenções de Alto Impacto: Saúde Comunitária em Quinara 2014-2016” teve início em maio de 2014 e decorrerá até julho de 2016. Tem como objetivo geral “Contribuir para a disponibilidade de serviços de saúde de proximidade às grávidas e crianças menores de 5 anos da Região Sanitária de Quinara”.
OBJECTIVOS DO POSTO DE TRABALHO:
O Chefe de Missão é o principal representante da AMI no país.
Deverá, por isso, coordenar a missão da AMI na Guiné-Bissau (Regiões de Quinara e Bolama), ao nível da gestão das equipas, recursos e contactos, bem como, garantir a implementação e seguimento do projeto “Intervenções de Alto Impacto: Saúde Comunitária em Quinara 2014-2017”, gerindo a parceria com a entidade co-financiadora (UNICEF) no terreno.
Deverá, também, apoiar e supervisionar eventuais projetos que sejam implementados na Região Sanitária de Bolama.
Deverá, ainda, propor estratégias de atuação futuras da AMI ao nível da saúde, elaborar e/ou apresentar projetos a financiamento e trabalhar em estreita articulação com o desk responsável, na sede, pela Guiné-Bissau.
Funções e responsabilidades:
1 – Ao nível da Chefia de Missão:
Representação da AMI (reuniões com outras entidades sempre que necessário);
Gestão das parcerias existentes e desenvolvimento de novas parcerias;
Exploração de novas linhas de financiamento e financiadores;
Supervisão das equipas e projetos da AMI nas Regiões Sanitárias de Quinara e Bolama;
Gestão da equipa expatriada (Quinara e Bolama):
- Execução dos procedimentos oficiais para a entrada, permanência e saída do país;
- Apoio e gestão da integração na missão e na equipa expatriada;
- Apresentação de novos elementos a organizações e outros interlocutores;
- Supervisão do cumprimento de procedimentos internos;
Gestão da equipa local (Quinara e Bolama):
- Selecção e contratação;
- Supervisão das tarefas a realizar.
Gestão logística dos recursos da AMI (casas, veículos, bens de missão);
Gestão financeira e contabilidade da missão;
Elaboração de relatórios e documentos internos destinados à sede da AMI em Lisboa;
Manutenção de um contacto regular com a sede que inclui a produção de relatórios internos periódicos;
Outras tarefas pontuais.
2 – Ao nível da gestão do projecto de saúde comunitária na Região Sanitária de Quinara:
Implementação de algumas das atividades do projeto;
Supervisão e apoio na implementação das restantes actividades do projeto;
Capacitação de parceiros locais na área da gestão;
Monitoria e avaliação;
Gestão administrativa, financeira e logística;
Elaboração de relatórios para financiadores nacionais e internacionais;
Participação em grupos de trabalho relacionados coma área de saúde comunitária no país.
PERFIL PRETENDIDO:
Requisitos obrigatórios:
Formação superior na área das ciências sociais ou saúde e/ou experiência profissional na área da Cooperação para o Desenvolvimento;
Experiência comprovada em gestão de ciclo de projetos de Cooperação para o Desenvolvimento;
Experiência de trabalho/voluntariado em países em desenvolvimento;
Capacidade de representação institucional;
Domínio de ferramentas Office;
Capacidade de integração em ambiente multidisciplinar e gestão de equipas;
Capacidade de adaptação a contextos isolados e condições adversas;
Espírito de trabalho em equipa.
Requisitos preferenciais:
Experiência prévia na Guiné-Bissau;
Experiência / conhecimento prévio da Saúde Comunitária na Guiné-Bissau;
Experiência em capacitação de parceiros locais.
CONDIÇÕES:
Duração: 6 meses, eventualmente renovável.
Local de trabalho: Guiné-Bissau, região sanitária de Quinara, cidade de Buba (base da missão), com deslocações à Ilha de Bolama e Bissau.
Condições oferecidas: Pacote de benefícios tabelado, que inclui mensalmente: ajudas de custo, subsídio de coordenação, subsídio de alimentação. É também disponibilizado alojamento e seguro internacional durante todo o período em missão. A Fundação AMI assegura também a viagem de início e fim da missão.
PROCESSO DE SELECÇÃO
Os interessados deverão enviar o mais brevemente possível um e-mail de candidatura, anexando o seu currículo vitae e carta de motivação para: Fundação AMI/Ângela Pedroso: angela.pedroso@ami.org.pt
Os candidatos seleccionados na primeira fase serão convidados a realizar uma entrevista na sede.
Por motivos de urgência a vaga será preenchida assim que se encontrar o perfil adequado.
Após ser selecionado, o voluntário deverá partir para o terreno o mais rapidamente possível (mês de março 2016).
Dirigido a alunos do 7º ao 12º ano, este prémio da AMI visa potenciar a consciência social da juventude, incentivando a criatividade e o voluntariado. “Costuras”, ”Emocionar`te”, ”A importância do voluntariado na Educação e na Cidadania Global” e “Ajudar para melhorar” são os quatro projectos vencedores da 6ª edição do Linka-te aos Outros. Os selecionados dividem um apoio de 3200 euros.
A Escola Profissional de Aveiro (EPA) apresentou dois projetos vencedores, ambos centrados no apoio a pessoas com necessidades especiais: “Costuras” e “Emocionar`te”. O primeiro pretende reunir brinquedos usados junto de várias entidades, e conferir-lhes uma nova vida, adaptando-os a crianças com necessidades educativas especiais. Ainda na EPA, o segundo projeto vencedor, “Emocionar`te”, visa a animação e promoção de competências junto de utentes com multideficiência em Oliveira do Bairro através da expressão plástica e artística.
Da Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos Dr. Horácio Bento de Gouveia chega-nos o projeto: “A importância do voluntariado na Educação e na Cidadania Global”. A proposta tem como objetivo divulgar, incentivar e promover a prática do voluntariado nas escolas da RAM (Região Autónoma da Madeira). A confeção e distribuição de refeições a pessoas em situação de sem-abrigo é uma das ações projetadas.
Finalmente, a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento rural de Marco de Canaveses apresentou o projeto “Ajudar para melhorar” que consiste em sinalizar e apoiar famílias e idosos desfavorecidos e excluídos socialmente, através da oferta de bens alimentares e outros produtos, transmissão de princípios de organização doméstica, cuidados básicos de saúde e limpeza.
Lançado em 2010 nas escolas de todo o país, o prémio “Linka-te aos Outros” já selecionou e financiou dezenas de projetos, com montantes de apoio superiores aos 20 mil euros. Do apoio a famílias carenciadas ao acompanhamento a idosos, os objetivos e ações dos estudantes têm gerado um impacto social importante. A AMI continuará a encorajar e a envolver os jovens nestas ações, pois acredita que são capazes de alterar realidades socialmente injustas e, simultaneamente, cativar outros para ações solidárias e socialmente transformadoras.
Como habitualmente na época de Natal, a AMI desafa empresas a financiarem cabazes, contribuirem para diversos projetos ou a apoiarem crianças e idosos dos Espaços de Prevenção à Exclusão Social (EPES) dos Centros Porta Amiga.
Cerca de 7 mil colaboradores de diversas empresas aceitaram o desafio solidário, mobilizaram-se permitindo oferecer cabazes de Natal a 2111 famílias e 6945 pessoas apoiadas pela AMI.
Graças a generosidade de todos foi ainda possível entregar prendas às crianças que frequentam os EPES e proporcionar atividades lúdicas aos idosos.
A AMI agradece o apoio da EDP GAS Porto, Würth-Portugal, Azeite Gallo, Nestlé, Ferbar, Innowave technologies, HP Entreprise, RAR Açúcar, Turbomar/Grupitel, Walt Disney Company, Riberalves, Soja de Portugal, FAPIL, Michael Page, Imperial, MaxData, Padaria Portuguesa, IGFSS, Alliance HeathCare, Jonhson&Jonhson, Clube VII, Escola do Comércio de Lisboa, Kelly Services, Sovena, Continente e Hotel Cascais Mirage, Fundação Axa – Corações em Ação e Esporão.
Muitas histórias cabem dentro de uma vida, sobretudo quando os momentos mais difíceis e inesperados são atirados para um canto como sobras inúteis por uma convicção que embrulhada num sorriso se faz frase: “Para ser feliz uma pessoa necessita apenas de ser honesta.”
Tiago* nasceu na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, há 60 anos. Se fosse amanhã passear pela Sunset Boulevard, em Los Angeles, teria certamente várias centenas de fãs a pedirem um autógrafo e a perguntarem como foi trabalhar com Brad Pitt. O sorriso sereno, olhar meigo e até os pontos negros na face lembram Morgan Freeman. É um homem aparentemente tranquilo. Apesar de ter passado ao lado da carreira de ator, Tiago já representou vários papéis, numa vida preenchida de múltiplas histórias, desafios e “personagens”. As suas mãos já dirigiram cargueiros no Atlântico adentro e viaturas industriais pelos caminhos de Portugal. Actualmente está desempregado. Vive na Buraca com a companheira Susana*, uma guineense ainda mais sorridente e extrovertida, mãe de 11 filhos a viverem a cinco mil quilómetros de distância. “Vimos à AMI não é pela ajuda mas pela amizade”, diz. O rendimento social de inserção de ambos já dá para o aluguer da casa. Nem sempre foi assim.
Quando recorreram pela primeira vez ao apoio do Centro Porta Amiga das Olaias, em 2004, a situação era bem mais complicada. Procuravam roupa e ocasionalmente alimentos. Eram um casal mistério que aos poucos se foi abrindo. O desemprego de ambos foi adiando o pagamento da renda. O senhorio perdeu a paciência. Chegou mesmo a retirar as portas e janelas do quarto. Esperando que o frio de Dezembro o ajudasse na expulsão. Conseguiu. “Era uma pessoa muito violenta”, recorda Tiago.
Quando pisou o chão de Lisboa em 1968 está longe de imaginar as rasteiras que a vida lhe reservava. Tirou o Curso da Marinha Mercante. Fez-se ao mar. O horizonte lembrava Cabo Verde. Sobravam saudades de Santiago, mas o trabalho, esse não faltava, mão no leme de cargueiros de pesca oceano adentro. Estava em casa sem ter casa, nem terra debaixo dos pés, navegando mar alto durante dias dilatados em semanas, transformados em meses. Seguiu-se curso de manobrador de viaturas industriais pesadas. Trabalhou para algumas das mais importantes empresas de construção civil. “Era capaz de manobrar qualquer máquina. Gruas altíssimas”, recorda. A vida parecia encaminhada, segura e estável. Tinha um apartamento na Estrada da Luz, em Lisboa. Conheceu então a mulher da sua vida, Susana. Já lá vão 20 anos. Amigos e companheiros desde então. “Só nos separamos depois da morte”, diz. “Entendemo-nos bem. Raramente discutimos, apesar de termos olhares diferentes sobre as coisas. É natural”.
Quando a vida parece equilibrada, surge uma rasteira. Tiago decide comprar uma casa à confiança e acaba burlado. “Perdi 2450 contos”.
“ A vida dá muitas voltas. É importante mantermos sempre a nossa dignidade. Esta é feita pela nossa cultura. Até um analfabeto tem cultura, tem a língua que recebeu dos seus antepassados”, afirma.
O desemprego empurrou-o para a AMI. Regressemos então a 2004. Vieram ambos à procura de roupa e ocasionalmente alimentos. Em “Bruce, o Todo-poderoso”, Morgan Freeman é Deus disfarçado de empregado de limpezas. Na vida real, Tiago já teve vários empregos. No entanto, na realidade, nunca sabemos quem temos à nossa frente.
Lançado este ano letivo, o Fundo Universitário AMI vai beneficiar 24 estudantes com uma bolsa no valor de 600€. Para simbolizar a atribuição deste apoio, foi realizada, no dia 1 de dezembro, na sede da Fundação AMI, em Lisboa, uma cerimónia com alguns bolseiros.
Este Fundo, anunciado no início de 2015, surgiu na sequência de pedidos de ajuda de estudantes que não conseguiam prosseguir os seus estudos por não terem como pagar as suas propinas.
Com um orçamento máximo de 20 mil euros, o Fundo Universitário AMI tem pois como objetivo, apoiar a formação académica de jovens que não disponham dos recursos económicos necessários para o prosseguimento de estudos no ensino superior ou que, no decurso da sua licenciatura, se encontrem subitamente numa situação financeira crítica.
Com a atribuição deste Fundo, a AMI espera contribuir para que os jovens beneficiários, muitos deles verdadeiros exemplos de coragem e perseverança, tenham melhores condições para construir um futuro de sucesso, digno e feliz, permitindo, em muitos casos, quebrar o perverso ciclo da exclusão social e da pobreza.
Ciente de que, mais do que alertar para determinadas questões como esta, é imperativo agir, ao atribuir estas bolsas, a AMI considera estar a cumprir um dever, enquanto participante ativa da sociedade civil, que permitirá o acesso a um direito fundamental: a educação de qualidade.
Atuamente, estamos a apoiar no Haiti um projeto de valorização do papel social da mulher. Em parceria com a Organização Não Governamental REFRAKA financiamos a implementação e reforço de uma rede de rádios comunitárias. Em 2000, verificou-se a impossibilidade das mulheres integrarem a equipa de locutores. Este obstáculo reside na existência marcada de desigualdades de género, traduzidas pela participação reduzida nas estruturas internas e na tomada de decisões. Como forma de lutar contra esta situação de exclusão, um grupo de mulheres jornalistas decidiu criar uma rede com o objetivo de fortalecer a competência, a integração e a participação das mulheres nas rádios e respetivas estruturas de decisão em todo o país, vencendo preconceitos. O processo foi difícil, enfrentaram rejeição e falta de colaboração, mas a determinação destas mulheres garantiu a continuidade deste desafio. Volvidos 14 anos, estão presentes em nove dos 10 departamentos do país e colaboram com outras rádios em várias regiões, comentando e reportando diversos assuntos. No primeiro ano desta rede, em 2001, contavamos com 15 mulheres. Atualmente temos mais de 250 animadoras, apresentadoras e produtoras nas já 27 rádios comunitárias.
A REFRAKA é ativa na promoção da igualdade de género e na luta contra a violência de género, assim como na sensibilização comunitária para a educação ecológica e mitigação de riscos de catástrofes naturais e ainda, na formação de técnicas de produção jornalística e consciencialização geral. Esta organização é apoiada e cofinanciada pela AMI desde 2009 e, no ano passado, abraçaram mais um projeto especificamente vocacionado para “A participação ativa das mulheres como agentes e divulgadoras sociais em rádios comunitárias” que durará até 2017. Ao mesmo tempo que se reduzem as barreiras de género nas rádios comunitárias, sensibiliza-se a população para a promoção da igualdade de género, combatendo a violência de género. Paralelamente, promovemos o empowerment das mulheres de zonas rurais que se tornam ativistas nas respetivas comunidades.
Na vertente da formação, realizam-se sessões de formação sobre técnicas de jornalismo, direitos das mulheres e participação ativa de cidadania, liderança e autoestima, entre outras. São ainda organizadas conferências, debates e jornadas de mobilização.
Relativamente ao apoio às vítimas de violência de género, a REFRAKA está a ter um papel particularmente importante. Do ponto de vista da sensibilização, concebe e implementa programas educacionais e spots sobre a violência baseada no género, o que permite que as mulheres de zonas mais remotas tenham acesso a informações que as podem ajudar a protegerem-se melhor contra a violência, assim como solicitar os serviços de apoio social e judicial. Estão a estabelecer um grupo de trabalho de três pessoas em 10 estações de rádio comunitárias para orientar mulheres e meninas vítimas de violência de género até às estruturas apropriadas de assistência, cuidado e acesso à justiça. De maneira a fortalecer a capacidade técnica das organizações locais para responderem às situações de violência, as rádios comunitárias têm um relatório bem documentado sobre os casos de violações dos direitos das mulheres. A somar a todas estas ações, trabalham ainda em estreita colaboração com organizações de mulheres da capital, Port-au-Prince, para facilitar sinergias e realizam sessões de diálogo entre as mulheres vítimas de violência, estimulando a partilha de experiências, bem como formação e apoio psicológico.
Na Tanzânia, iniciaremos em breve um projeto ambiental de gestão de resíduos. Em parceria com Organização Não Governamental Sea Sense, vamos melhorar as práticas de gestão de resíduos numa extensa área situada a 135km de Dar es Salaam, capital comercial da Tanzânia.
A principal fonte de rendimentos nesta região é garantida sobretudo pela agricultura, pesca e exploração de recursos florestais. A pesca do camarão é a mais importante, empregando mais de 3 mil pescadores. Esta forma de subsistência está cada vez mais ameaçada pela má gestão do meio ambiente marinho. Resíduos sólidos são frequentemente despejados em praias onde se faz secagem de peixe e em cursos de água. Mais de 70% das doenças assistidas em unidades de saúde na Tanzânia estão relacionadas com água e saneamento. A ausência de práticas de gestão de resíduos produz uma contaminação ambiental cada vez mais intensa e perigosa. Para além do risco associado à saúde humana, os ecossistemas de que estas comunidades piscatórias dependem estão a ser fortemente danificados.
Este projeto será implementado em dois distritos, apoiando 15 comunidades num total de 5.280 beneficiários. Serão realizadas diversas atividades formativas com alunos de seis escolas secundárias, dotando-os de práticas eficazes de gestão de resíduos ao longo de um programa educativo. Está ainda previsto treino de ativistas comunitários em gestão de resíduos e a realização de ações que promovam a proteção do ambiente, saúde e cidadania. Finalmente, iremos envolver cidadãos de comunidades costeiras em práticas de gestão de resíduos que beneficiem a saúde e bem-estar social e reduzam a pesca de espécies de elevado valor de biodiversidade.
Três dias antes dos massacres de Paris, a imprensa internacional noticiou: 200 crianças executadas pelo autoproclamado Estado Islâmico na Síria. Vídeo e fotografias deste crime hediondo invadiram a internet. No entanto, pouco ou nada soubemos destas crianças. Permanecem anónimas, sem nome, rosto ou família que chore a sua ausência. O absurdo deste ato e a distância geográfica do mesmo, provavelmente ativou o nosso estado de negação. Na quinta-feira anterior, em Beirute, no Líbano, o mesmo Estado Islâmico reclamava a autoria de um outro massacre, desta vez com mais de 80 vítimas. Novamente, sem gerar muita comoção.
A crueldade dos atentados de sexta-feira 13 em Paris, produziu uma expectável e natural onda de indignação em toda a sociedade ocidental. Paris somos nós. Somos absolutamente contra a violência, a barbárie a morte. Tal como na capital francesa, em Portugal assistimos a concertos rock, gostamos de jantar fora e de conversar com amigos numa esplanada. Identificamo-nos com as vítimas, não só pela nacionalidade, como pelo estilo de vida e pelos valores próximos, senão idênticos aos nossos. Rapidamente, somos franceses para nos sentirmos mais humanos. Essa empatia dá-nos força num luto coletivo. Quando morre um inocente, o mundo torna-se num lugar mais sombrio.
A humanidade é um valor universal, sem fronteiras. Hoje, somos todos parisienses, mas também libaneses, sírios. afegãos. Somos todos seres humanos.
Jorge* foi taxista em Lisboa. Volvidos anos, trocou o volante do ligeiro por um camião e fez-se às estradas da Europa. As curvas da vida conduziram-no por vários altos e demasiados baixos. Viveu em Inglaterra, conheceu a Irlanda. Casou. Foi pai. Viveu a estabilidade e o sonho de uma família e de uma casa feliz. Acordou para um divórcio, transformado em desemprego, em solidão, em sem abrigo. Aos 54 anos olha pelo retrovisor da vida e vê alguns remorsos: “nem sempre fiz as melhores opções, nem sempre escolhi os melhores caminhos”.
Existe um arrependimento e uma mágoa que curvam o olhar. Uma timidez que encurta as frases, que poupa nas palavras, que economiza nos afetos. Existe uma culpa que o empurra para um lugar frio e triste, onde o perdão a nós próprios é mais dolorosa das solidões, mesmo quando nos visita vestida de apoio e aceitação alheia.
A revolução dos cravos trouxe consigo uma liberdade bruta sem manual de instruções. Terminada a ditadura, a sociedade portuguesa conheceu toda uma catarse de novos comportamentos, estéticas, formas de expressão e sobretudo de descompressão. Na vertigem da espuma desses dias loucos de utopia, de descoberta sem censura nem aviso, o universo das drogas ocupou um protagonismo até então desconhecido, entrando de forma avassaladora na vida de milhares de jovens.
Ainda adolescente, Jorge experimentou porque “não queria que o grupo de amigos me achasse diferente”, diz. “Na altura—recorda—não havia conhecimento sobre drogas nem dos seus efeitos. Era tudo novo. Não víamos ninguém a mendigar ou a viver na rua a quem pudéssemos dizer: olha o que a droga fez aquele tipo. Mesmo os meus pais queriam ajudar mas não sabiam como. Não existiam gabinetes nem institutos de apoio”.
Sem tempo para ler “Os Filhos da Droga”, de Christiane F., que serviriam de aviso exemplo para a geração seguinte, Jorge assistiu à morte de grande parte dos amigos, incapazes encontrarem uma saída para a inesperada dependência. “Não é nada fácil sair, acredita”. Felizmente, Jorge conseguiu. “Tens de voltar a acreditar em ti”, diz.
Atualmente, tem emprego, é jardineiro. Tem um quarto alugado e tempo suficiente para passear pela cidade. Na AMI encontrou apoio, formação, caminho, afeto. “Ajudaram-me bastante, deram-me um futuro”.
O Abrigo Noturno da Graça celebra hoje 18 anos. Inaugurado em 11 Novembro de 1997, este equipamento social já ajudou mais de 700 pessoas. Disponibiliza 26 camas e um programa de apoio psicossocial a pessoas em situação de sem-abrigo.
Dezenas de convidados e centenas de participantes juntaram-se no dia 5 de novembro no auditório da Gulbenkian, em Lisboa, para a 3ª edição dos Encontros Improváveis. Os Direitos Humanos foram o tema dominante que chamou a si realidades do trabalho infantil, papel da mulher, refugiados e alterações climáticas, entre outras.
Fernando Nobre abriu os trabalhos recordando a ligação da AMI à Global Compact Network Portugal e o facto desta ser a terceira das quatro conferências que remetem para os temas fundamentais que constituem os compromissos desta iniciativa das Nações Unidas. Antes de apresentar os oradores, o Presidente da AMI frisou que nunca é demais recordar que há 60 milhões de refugiados e que nunca imaginou, ao fim de todos estes anos, que o mundo pudesse defrontar-se com este tipo de problema.
Existem 168 milhões de crianças a trabalhar. Sendo este um dos maiores desafios e uma das questões colocadas ao 1ª painel.
Fátima Pinto, Presidente da Confederação Nacional de Ação Sobre Trabalho Infantil começou por referir que é penoso assistirmos em pleno século XXI a este fenómeno e verificar que ainda há tantas crianças impedidas de ir à escola, privadas de felicidade e futuro.
Mafalda Troncho, da Organização Internacional do Trabalho acrescentou que, apesar de tudo, a situação melhorou de forma significativa nos últimos anos, uma vez que a prevalência do trabalho infantil decresceu 30% desde 2008.
Já a representante da IKEA, salientou a importância das empresas que fazem questão de ter um impacto positivo nos mercados onde estão presentes, nomeadamente através da implementação de boas práticas e da constante procura da sustentabilidade.
O Papel da Mulher no Desenvolvimento foi o tema que juntou no 2º painel dois parceiros da AMI: a Associação Comunitária de Milagres, do Brasil, e a Hope Of Mother, do Afeganistão. As questões de género, a forma como dividem, oprimem, discriminam ou limitam homens e mulheres foram centrais.
Um imperativo de mudança foi consensual. Do Afeganistão ao Brasil, as questões parecem estranhamente recorrentes e idênticas. No entanto, as soluções para as superar não devem nem podem ser iguais. A importância da educação constitui para os participantes algo de consensual e incontornável.
Para o derradeiro painel estava reservada a discussão mais animada da 3ª Conferência Encontros Improváveis. O tema ajudou: Alterações Climáticas, Migrações e as Crises Humanitárias. A reflexão começou com a questão ambiental e as suas implicações. Mais concretamente, o que acontecerá ao planeta na ausência de medidas climáticas.
Sabendo-se que as alterações têm, nos tempos recentes, acentuado os fenómenos naturais extremos.Particularmente nos países mais frágeis. Ironicamente, os que menos contribuem para essas alterações. O Bangladesh é anualmente assolado por, cada vez mais numerosas e intensas catástrofes naturais, o que contribui a degradação das condições de vida dos seus habitantes.
Os movimentos migratórios que ultimamente têm sido protagonizados pelos refugiados foram inevitavelmente o tema que se sucedeu, tendo os oradores sido unanimes na sua classificação em relação à gravidade e necessidade absoluta de resolução.
A temática abordada este ano não poderia ser mais pertinente numa altura em que a ONU apresentou uma nova agenda para o desenvolvimento.
A AMI reafirma o seu compromisso de apoiar os princípios do UN Global Compact e difundi-los, ciente da importância desta plataforma para a consolidação de uma aliança por um mundo melhor.
Acreditamos sinceramente que é nosso dever alertar para todas as decisões, movimentos e ações que possam de alguma forma ameaçar os Direitos Humanos e agravar a situação de todos aqueles cuja dignidade é constantemente desrespeitada.